Por que o Sexto Mandamento exige pureza autêntica
“Este povo Me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.” – Marcos 7,6
Quando recitamos o Decálogo, o Sexto Mandamento costuma passar em uma palavra: adultério. Contudo, na Bíblia e na tradição católica, essa palavra se desdobra numa visão completa do amor humano: todo uso desordenado da sexualidade — físico ou virtual, solitário ou partilhado — fere corpo e alma.
Há, porém, tragédia maior: permanecer visivelmente “dentro” da Igreja enquanto vive fora do seu perímetro moral gera hipocrisia tóxica. Melhor ser um incrédulo honesto do que um católico de fachada, pois o Senhor “vomita” a tibieza (Ap 3,16). A boa notícia é que Cristo nunca retira Sua oferta de resgate — mas essa oferta expira no dia em que damos o último suspiro.
1. Hipocrisia: o pecado que agrava o pecado
Diante do mundo podemos parecer respeitáveis; diante do Céu nos tornamos ridículos quando recebemos a Comunhão enquanto tramamos fins de semana de impureza. Jesus reservou Suas palavras mais duras não para pagãos, e sim para fiéis fingidos (cf. Mt 23). Assim, quem recusa lutar contra violações habituais do Sexto Mandamento — adultério, união de fato, pornografia, masturbação, prática homossexual ou qualquer relação sexual fora de um matrimônio válido — acaba chamando Deus de mentiroso que “não entende a natureza humana”. É o dobro da ofensa: pecado contra o Sexto Mandamento e pecado contra o Espírito Santo, a rejeição deliberada da verdade conhecida.
2. A graça tem prazo de validade
Santos de Agostinho a Teresinha lembram: cada segundo ou amolece ou endurece o coração. Miriam Baouardy (“a Pequena Árabe”) escreveu que a maioria das almas no inferno chegou lá por pecados de impureza. Por quê? Porque quanto mais brincamos com a sexualidade desordenada, mais grosso fica o calo da consciência. Cada “hoje não, Senhor” torna o fiat de amanhã mais pesado. Um dia a graça baterá pela última vez. Ninguém sabe se morrerá de velhice, acidente ou no próximo batimento cardíaco.
3. Casos concretos que o Evangelho confronta
Situação | Chamada da Igreja à pureza |
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Divorciados civilmente e recasados sem nulidade | Viver como “irmão e irmã” ou separar-se até que o vínculo seja examinado. Sim, é possível — inúmeros casais o fazem em silêncio. |
Solteiros sexualmente ativos ou coabitando | Recuar, confessar-se e reconstruir o relacionamento sobre a castidade; se resistir, ser honesto e abster-se da Comunhão. |
Pornografia ou masturbação | Eliminar ocasiões (filtros, prestação de contas, mudanças radicais de estilo de vida) e confessar-se. |
Pessoas com atração pelo mesmo sexo | A atração em si não é pecado; praticá-la é. Buscar amizade, oração, sacramentos e ministérios que sustentem a vida casta. |
4. A cegueira da presunção
“Eu sei que é errado, mas Deus entende.”
Essa frase é catarata espiritual. Deus entende — tanto que foi pregado numa cruz para provar quão mortal é o pecado. Chamar o mal de bem insulta o Inventor da natureza humana e ecoa o slogan mais antigo do diabo: “Foi mesmo que Deus disse…?” (Gn 3,1).
5. Mapa de volta à graça (hoje, não amanhã)
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Sinceridade – Pare de mascarar o pecado mortal como “fraqueza”. Nomeie-o.
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Contrição – Peça o dom das lágrimas, mesmo que o sentimento demore.
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Confissão – Nenhuma fala supera “Perdoe-me, Padre…”.
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Propósito firme – Se não consegue imaginar reforma total, prometa o que pode e rogue a Deus que amplie. Ele honra grãos de mostarda.
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Reparação – Termine o caso, instale o filtro, mude-se, apague os favoritos, quebre o padrão. A graça faz 99 passos depois que você dá o primeiro.
6. Fora, mas a caminho de casa
Se hoje você não consegue — ou não quer — mudar, seja verdadeiro: fique sem Comunhão, continue buscando, mas não finja retidão. Um incrédulo honesto está mais perto da conversão que um hipócrita condecorado. O filho pródigo precisou sair da pocilga antes de receber o manto (Lc 15).
E lembre-se: o portão ainda está aberto. A pureza não é só ausência de vício; é a liberdade de amar como Deus ama. Nessa liberdade há alegria que o mundo não falsifica.
“Eis agora o tempo favorável; eis agora o dia da salvação.” – 2Cor 6,2
O amanhã é boato. Hoje, a graça bate à sua porta. Abra enquanto é tempo — volte à vida sacramental renovado ou comece a jornada de fora com integridade. Melhor um buscador sincero que um impostor elegante. Mas o melhor de tudo é o santo em construção, mancando, porém avançando rumo ao Pai, cuja misericórdia é sempre total quando finalmente dizemos “sim”.